terça-feira, 22 de outubro de 2013

Crítica: Turistas




Direção: John Stockwell
Gênero: Terror/Suspense
Duração: 94 min.
Ano: 2006

“Chocante e genuinamente assustador!” (Maxim)

John Stockwell e sua grande piada mal interpretada

Que o gênero terror adolescente está completamente desgastado atualmente, não há como negar; os roteiros seguem a mesma estrutura simplista e pouco inteligente que já virou estereótipo: jovens que se aventuram em uma situação perigosa sem enxergar os riscos mais óbvios, até serem caçados e massacrados, um a um. O que muda, geralmente, são os níveis de violência e as locações. Pois bem, o diretor John Stockwell resolveu utilizar o Brasil como locação para rodar mais um filme do gênero “horror teen” e o resultado final... embora não tenha sido, de forma alguma, brilhante, ao menos soube cumprir, dentro de sua mediocridade, o objetivo a que se propunha, acrescentando até certa dose de inovação.
A trama de “Turistas” (o título original é mesmo em português) gira em torno do típico grupo de jovens aventureiros de férias pelo Brasil. O ônibus em que viajam quebra-se e eles ficam literalmente perdidos no meio do mato. Irritados, já começam arranjando briga com o motorista e com um dos passageiros, indo em seguida parar em uma praia paradisíaca, onde se fartam de bebidas, dança e sexo – elementos tradicionais nesse estilo de produção. No dia seguinte, acordam jogados na praia, sem dinheiro e sem documentos, aceitando a ajuda de um estranho e indo parar justamente no epicentro de seu maior pesadelo: tornam-se vítimas de uma quadrilha de tráfico de órgãos.
A crítica estrangeira – e a nacional também – foi terrivelmente desfavorável ao filme de Stockwell, apontando falhas técnicas como inexperiência na direção, elenco ruim e, evidentemente, roteiro inconsistente. Contudo, se “Turistas” não é mais que um filme B comum, ao menos houve uma inovação interessante e criticamente reflexiva na perspectiva do ‘vilão’, que, diferente da maioria dos filmes, não é um sádico que gosta de matar por prazer. Ele até se justifica para uma vítima: “Se vai fazer você se sentir melhor, saiba que eu faço isso por uma boa causa”; de fato, em seguida ele faz seu discurso sobre as razões que o levam a praticar aqueles crimes. A explicação do Dr. Zamora (Miguel Lunardi) até que é bastante plausível – para não dizer ‘humanitária’ e ‘politicamente correta’, já que é bastante distorcida também – trazendo à tona a revolta dele, habitante de um país pobre e subjugado historicamente pelas metrópoles mundiais. O motivo pelo qual ele extrai os órgãos dos turistas demonstra sua tentativa em buscar um equilíbrio, uma compensação pelas riquezas brasileiras roubadas pelos ‘gringos’.
Apesar da já batida comparação de “Turistas” com “O Albergue” (filme de Eli Roth), o fato é que ambos possuem poucas semelhanças: o roteiro que mostra a xenofobia de forma escrachada e altas doses de violência explícita. Entretanto, se é inegável que o filme de Roth é superior ao de Stockwell, essa qualidade a mais se restringe basicamente a conceitos técnicos: fotografia, música e roteiro. Nem a direção de “O Albergue” fica muito à frente da de Stockwell, pois aquele filme tem também problemas de ritmo e cai muitas vezes no clichê, especialmente na primeira metade. Tirando-se a participação de Tarantino como produtor, muito pouco sobraria do filme de Roth. Mas, voltando a “Turistas”, este filme não possui tanta violência quanto “O Albergue”, mas sabe os momentos certos de usar violência e mostrar sangue, o que ocorre sempre acompanhado de uma fotografia escura, que sugere um clima de tensão interessante. Outro aspecto curioso é a trilha sonora, composta exclusivamente por músicas brasileiras, o que funcionou bem para o contexto essencial do filme, até certo ponto, destacando-se os créditos de abertura com música de Marcelo D2 intercalando imagens atraentes do Brasil (praias, mulheres de biquíni, carnaval) a anúncios de desaparecimentos de turistas.
Os protagonistas de “Turistas” são, provavelmente, seu ponto mais negativo, não tendo nada de especial; pelo contrário, são daquele tipo que quando morrerem farão um favor ao mundo (!), em especial o protagonista Josh Duhammel, que não demonstra nenhum carisma. Além disso, são estúpidos o bastante para nem saber o idioma que é falado no país. Contudo, algumas falas dos personagens são bastante críticas e verdadeiras, revelando uma perspectiva sobre o Brasil que não está longe da realidade: “Por que tudo demora tanto aqui?”, “A polícia? E eles não são piores que os bandidos?”.

Resumindo tudo, “Turistas” não é um filme inesquecível nem o melhor sobre massacres de jovens cabeças-ocas, mas oferece um entretenimento razoável desde que o espectador não o leve muito a sério. O segredo é encarar John Stockwell como um comediante que acaba de contar uma grande piada... grosseira e meio sem nexo, mas ainda assim uma piada. Se o roteiro, a direção e os protagonistas não são muito bons, vale a pena ao menos pensar na “humanidade” de Zamora, um pobre Dom Quixote que tenta, do seu jeito torto, defender a pátria que ama, fazendo justiça com as próprias mãos – literal e sanguinariamente.


Conceito: Bom
Nota: 7,0





Curiosidades sobre este filme

v “Turistas” é também conhecido pelo título alternativo “Paradise Lost”;
v Houve tentativas de boicote ao filme no Brasil;
v “Turistas” foi considerado, pela Fangoria Magazine, “Melhor e mais assustador do que O Albergue!”.
v Todas as músicas do filme são brasileiras.


Para mais informações sobre o filme "Turistas", acompanhe os bastidores de filmagem a seguir:






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