sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Crítica: Desejo e Reparação



Desejo & Reparação


Filme de Joe Wright é muito mais denso e complexo do que romântico

"O mais próximo da perfeição possível"
(Daily Mirror)
Joe Wright já havia demonstrado muita habilidade em dirigir adaptações literárias ao realizar “Orgulho e Preconceito”, filme que lhe rendeu reconhecimento de público e, principalmente, de crítica. Dessa vez ele retorna à direção de uma adaptação do best-seller de Ian McEwan, “Atonement”, ressaltando com maestria a face sombria e de caráter mais psicológico do que romântico de uma história cheia de segredos e ressentimentos em constante atrito.
A história, que se passa no contexto tenso da Segunda Guerra, fala do romance entre Cecilia (Keira Knightley) e Robbie (James McAvoy), amantes que vivem um caso mais ou menos secreto: ela é filha de uma família rica, enquanto ele é apenas o filho de uma empregada da casa de Cecilia. Paralelamente, e com um destaque maior, conhecemos Briony (Saoirse Ronan), irmã mais nova de Cecilia, recém-chegada à adolescência, mas extremamente perspicaz e de uma inteligência aguda. Briony, mesmo muito jovem, tem um talento incomum com a escrita, uma imaginação muito fértil e complexa, razão pela qual ela parece mais madura intelectualmente do que é, de fato.
Justamente é essa habilidade criativa de Briony que, de forma inconsequente, embora consciente, destruirá as ilusões de amor de sua irmã, desestruturará sua família e, por fim, virá a ser sua própria destruição moral. A partir do momento em que Briony interpreta uma estranha cena entre Cecilia e Robbie com uma conotação puramente sexual, sua imaginação constrói conexões erradas e, consequentemente, altera o futuro de todos.
O que diferencia “Desejo e Reparação” dos demais filmes rotulados como românticos é a soma entre os fatores técnicos que, no fim das contas, resultam em uma das melhores obras-primas contemporâneas do gênero romance/drama. Os destaques do filme são, sem dúvida, as irmãs Tallis; Keira Knightley, como sempre, não decepciona o espectador e interpreta uma Cecilia convincente, muito humana e longe dos estereótipos e clichês românticos. Ela é forte e demonstra uma independência em suas ações que agrada o público sem nunca perder o foco ou a identidade da personagem. Contudo, a interpretação mestra é a de Saoirse Ronan como a jovem Briony. É impressionante como a atriz consegue fazer de sua personagem a mais “detestável” e, mesmo assim, a que mais tem sentimentos, embora confusos. Ela apresenta todas as faces necessárias para oscilar entre a ingenuidade infantil e a malícia adulta, plenamente executadas no decorrer do filme.
A direção rigorosa, porém sensível, de Wright abre espaço para questionamentos durante e após a projeção, evitando atirar os fatos na cara de quem está do outro lado da tela. Em vez disso, acompanhamos gradualmente a transformação dos personagens com o tempo, bem como as reviravoltas na história, tudo meticulosamente organizado e apresentado muitas vezes de forma implícita, razão pela qual o filme deve ser visto mais de uma vez para sua completa interpretação. Quem está a fim de diversão e dramalhão bobo, é melhor procurar um dos atuais romances adolescentes acéfalos que estão enchendo os olhos e os bolsos de Hollywood... entretanto, para quem busca uma história instigante, que provoque reflexões sobre as consequências dos atos e a psicologia de personagens profundos, “Desejo e Reparação” é um daqueles filmes ideais.


Conceito: Excelente
Nota: 10,0

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