Desejo & Reparação
Filme de Joe Wright é muito mais denso e complexo
do que romântico
"O mais próximo da perfeição possível"
(Daily Mirror)
Joe Wright já havia demonstrado muita habilidade em dirigir
adaptações literárias ao realizar “Orgulho e Preconceito”, filme que lhe rendeu
reconhecimento de público e, principalmente, de crítica. Dessa vez ele retorna
à direção de uma adaptação do best-seller de Ian McEwan, “Atonement”, ressaltando
com maestria a face sombria e de caráter mais psicológico do que romântico de
uma história cheia de segredos e ressentimentos em constante atrito.
A história, que se passa no contexto tenso da Segunda Guerra, fala
do romance entre Cecilia (Keira Knightley) e Robbie (James McAvoy), amantes que
vivem um caso mais ou menos secreto: ela é filha de uma família rica, enquanto
ele é apenas o filho de uma empregada da casa de Cecilia. Paralelamente, e com
um destaque maior, conhecemos Briony (Saoirse Ronan), irmã mais nova de
Cecilia, recém-chegada à adolescência, mas extremamente perspicaz e de uma
inteligência aguda. Briony, mesmo muito jovem, tem um talento incomum com a
escrita, uma imaginação muito fértil e complexa, razão pela qual ela parece
mais madura intelectualmente do que é, de fato.
Justamente é essa habilidade criativa de Briony que, de forma
inconsequente, embora consciente, destruirá as ilusões de amor de sua irmã,
desestruturará sua família e, por fim, virá a ser sua própria destruição moral.
A partir do momento em que Briony interpreta uma estranha cena entre Cecilia e
Robbie com uma conotação puramente sexual, sua imaginação constrói conexões
erradas e, consequentemente, altera o futuro de todos.
O que diferencia “Desejo e Reparação” dos demais filmes rotulados
como românticos é a soma entre os fatores técnicos que, no fim das contas,
resultam em uma das melhores obras-primas contemporâneas do gênero
romance/drama. Os destaques do filme são, sem dúvida, as irmãs Tallis; Keira
Knightley, como sempre, não decepciona o espectador e interpreta uma Cecilia
convincente, muito humana e longe dos estereótipos e clichês românticos. Ela é
forte e demonstra uma independência em suas ações que agrada o público sem
nunca perder o foco ou a identidade da personagem. Contudo, a interpretação
mestra é a de Saoirse Ronan como a jovem Briony. É impressionante
como a atriz consegue fazer de sua personagem a mais “detestável” e, mesmo
assim, a que mais tem sentimentos, embora confusos. Ela apresenta todas as
faces necessárias para oscilar entre a ingenuidade infantil e a malícia adulta,
plenamente executadas no decorrer do filme.
A direção rigorosa, porém sensível, de Wright abre espaço para
questionamentos durante e após a projeção, evitando atirar os fatos na cara de
quem está do outro lado da tela. Em vez disso, acompanhamos gradualmente a
transformação dos personagens com o tempo, bem como as reviravoltas na
história, tudo meticulosamente organizado e apresentado muitas vezes de forma
implícita, razão pela qual o filme deve ser visto mais de uma vez para sua
completa interpretação. Quem está a fim de diversão e dramalhão bobo, é melhor
procurar um dos atuais romances adolescentes acéfalos que estão enchendo os
olhos e os bolsos de Hollywood... entretanto, para quem busca uma história
instigante, que provoque reflexões sobre as consequências dos atos e a
psicologia de personagens profundos, “Desejo e Reparação” é um daqueles filmes
ideais.
Conceito: Excelente
Nota: 10,0
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