sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Crítica: Alice no País das Maravilhas



Direção: Tim Burton
Gênero: Fantasia
Duração:108 min.
                       Ano: 2010

Filme de Tim Burton é visualmente imperdível

O livro “Alice no País das Maravilhas” foi, sem dúvida nenhuma, um marco na literatura fantástica infantil, com sua trama surreal e cheia de ambiguidades. Como era de se esperar, inúmeras versões da obra de Lewis Carroll foram produzidas ao longo do tempo, de adaptações literárias a peças de teatro e filmes – incluindo a bela produção em desenho animado da Disney. É até estranho que tenha sido surpresa quando Tim Burton, conhecido pelas suas criações sombrias e bem-humoradas, anunciou que realizaria uma nova versão do clássico de Carroll.
“Alice no País das Maravilhas” (Alice in Wonderland) é, na verdade, uma adaptação livre não apenas da obra que lhe dá o título, mas também da história seguinte, “Alice no País do Espelho”, sem se prender a nenhuma delas rigorosamente. Isto não prejudica o filme; longe disso, o roteiro inteligente de Linda Woolverton alia os pontos principais de ambas as obras e ainda constrói uma espécie de continuação, de modo que todos os personagens preservam as características essenciais e a trama se mantém fluente por quase toda a projeção, salvo pequenas falhas de ritmo.
Na nova versão, temos uma Alice (Mia Wasikowska) adolescente que, depois de passar toda a infância “sonhando” com o Mundo Subterrâneo (ou País das Maravilhas), tem que enfrentar o moralismo vitoriano de sua época e decidir se quer casar com um homem a quem não ama. No exato dia do pedido de noivado, ela (re)encontra o Coelho Branco e mais uma vez (ou seria a primeira?) cai na toca dele, indo parar no estranho e divertido mundo a que tanto viajou enquanto criança. O início de sua jornada no País das Maravilhas é relativamente fiel ao do livro, tendo até a hilária situação de seus crescimentos e diminuições, enquanto come do bolo e toma do líquido da garrafa mágica na Sala Redonda. Em seguida, ela reencontra os personagens célebres daquele mundo surreal: o Coelho, a lagarta Absolem, os gêmeos Tweedledee e Tweedledum, a Lebre de Março e tantos outros, sem esquecer o principal deles: Chapeleiro Maluco (Johnny Depp, irreconhecível).
Enquanto vai (re)conhecendo o País das Maravilhas, Alice é notificada de uma “profecia”, na qual deve enfrentar a tirania da Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter) e ajudar a Rainha Branca (Anne Hathaway) a recuperar sua coroa. O filme trabalha basicamente a dúvida de Alice em assumir esta responsabilidade, uma vez que ela não tem certeza de que é a “Alice certa”.
Como ocorre com a maioria dos filmes de Burton, “Alice in Wonderland” dividiu opiniões e posturas da crítica, oscilando de boas recepções a indiferença. Muito se falou, por exemplo, sobre o vestido de Alice, que se ajusta aos seus estágios de crescimento, mas, sinceramente, não creio que este seja um “erro” a ser considerado ou criticado num filme de fantasia. É mais interessante falar das características técnicas e sobre a produção em si.
O visual do filme é fascinante, com cenários e criaturas digitais muito bem construídos, unindo a perspectiva de Burton e a própria imagem deixada pelos livros de Carroll, ambas repletas de bizarrices bem-humoradas. Quanto aos personagens, além do destaque de Depp como Chapeleiro Maluco, outra personagem importantíssima é a de Helena B. Carter como a nanica e cabeçuda Rainha Vermelha, sempre ávida por cabeças cortadas. A atriz parece ter um talento singular para incorporar esse tipo de personagem, assumindo trejeitos, olhares e gritos que a tornam irritante, mas divertidíssima como vilã.
Entretanto, analisando minuciosamente, o filme possui pequenas falhas. Uma delas é a presença de Anne Hathaway, que apesar de ser ótima atriz, está meio fora de foco aqui; talvez porque sua personagem seja muito pequena e ela tenha sido reduzida a simplesmente uma participação de luxo. A protagonista, Mia Wasikowska também careceu de um pouco mais de carisma e personalidade, duas características fundamentais para levar o espectador a sentir empatia por um personagem. O roteiro, embora fluente e inteligente, como já mencionado, é um tanto arrastado no início (na parte que precede o retorno da protagonista ao Mundo Subterrâneo). Obviamente, isto se fez necessário para explicar as circunstâncias que levarão Alice de volta a Wonderland, mas quebra um pouco do ritmo que o filme tenta estabelecer. Felizmente, minutos depois ele recupera o fôlego e enche os olhos do espectador com suas situações surreais e dinâmicas, em especial sob uma perspectiva visual.

Ao fim, a sensação que fica de “Alice no País das Maravilhas” é que ele proporciona uma satisfação sensorial fascinante, funcionando como um entretenimento realmente divertido, a despeito de seus pequenos deslizes, perdoáveis pelo prazer de distrair olhos e mente com mais uma produção marcante de Tim Burton. Só o fato de terem tido a ideia de criar uma Alice mais madura sem as apelações bobas e românticas típicas do cinema para adolescentes (Alice vivendo um romance com o Chapeleiro, por exemplo, seria insuportável) já é algo louvável e digno para a obra.


Conceito: Ótimo
Nota: 9,0



CURIOSIDADES SOBRE ESTE FILME:

v "Alice no País das Maravilhas" foi indicado ao Globo de Ouro de "Melhor Filme - Comédia ou Musical" e também ao Globo de Ouro de "Melhor Trilha Sonora";
v Johnny Depp foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator - Comédia ou Musical.
v Os custos de "Alice no País das Maravilhas" foram de US$ 200 milhões, um investimento com retorno de US$ 1.024 bilhões nas bilheterias.

v Esta é a segunda versão do livro de Carroll para o cinema (excetuando a versão animada), sendo que a primeira é de 1951.

TRILHA SONORA

Faça o download da trilha sonora de "Alice in Wonderland" por meio do seguinte link: http://depositfiles.org/files/pfa0zqcoy

Um dos temas do filme é interpretado por Avril Lavigne e intitula-se "Alice". Confira o videoclipe a seguir: 



Para mais informações extras sobre "Alice in Wonderland", acesse os vídeos indicados:

BASTIDORES: http://www.youtube.com/watch?v=KtA4sF_CvIs‎
EFEITOS ESPECIAIS: http://www.youtube.com/watch?v=NnZH7A_JHVs‎
FIGURINOS: http://www.youtube.com/watch?v=7u-p0R8e8pM‎

2 comentários:

  1. Tuas críticas a respeito da sétima arte são sempre inspiradoras, já que assistir meramente é algo muito comum, muitas vezes, pois, é assim que se dá com pessoas que se consideram, erroneamente, grandes conhecedoras dessa área. Tua visão altamente observadora e detalhista preenche o leitor de sensações elevadas a respeito da obra analisada. Entre os tantos detalhes comentados, gostaria de salientar a seguinte passagem, a qual tu fizeste uma referência na presente crítica: "Só o fato de terem tido a ideia de criar uma Alice mais madura sem as apelações bobas e românticas típicas do cinema para adolescentes (Alice vivendo um romance com o Chapeleiro, por exemplo, seria insuportável) já é algo louvável e digno para a obra." Seria ou é (quase) insuportável? Pois, no fim do filme, não vemos, de fato, um flerte entre o chapeleiro (ah, o Depp!!) e a Alice? Não é ela quem diz e declara que jamais o esqueceria e não é ele quem diz "e como se lembraria de mim?". Se isto não foi uma declarada possível aproximação sentimental entre Alice e o chapeleiro, então, desconheço os parâmetros reais de sensibilidade romanesca desse âmbito cinematográfico.

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  2. De fato! Há sim uma referência romanesca não só no final do filme, mas no próprio "desdobramento" de todo ele, na relação entre Alice e o Chapeleiro... Contudo, tal referência difere das mencionadas bobagens adolescentes e acéfalas que subestimam a inteligência do espectador e apenas apelam para sentimentalismo barato e raso. No caso do filme de Burton, ficou tudo muito sutil, mesmo levando em conta o teor "surreal" geral da obra!

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