sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Crítica: Perfume: A História de um Assassino




Direção: Tom Tykwer
Gênero: Suspense
Duração: 147 min.

Ano: 2006

 "Uma adaptação fiel e engenhosa do best-seller do alemão Patrick Süskind” (Isabela Boscov, Revista Veja)

Tom Tykwer e seu filme intensamente sensorial

Em uma época em que inúmeras adaptações de romances adolescentes, remakes de terror e outras produções de gosto discutível invadem os cinemas, é uma agradável surpresa deparar-se com um filme diferente, que chega às telas pelas mãos de Tom Tykwer, diretor cujo nome talvez não seja ainda tão conhecido, mas que entrega uma obra verdadeiramente digna de ser vista.
“Perfume: A história de um assassino” é a adaptação do aclamado romance de Patrick Süskind, e se passa na França do século XVIII, girando em torno de Jean Baptiste Grenouille (Ben Whishaw, em interpretação magistral), um rapaz que nasce com um incrível dom: o olfato mais sensível e apurado do planeta. Sendo capaz de reconhecer e identificar qualquer aroma, Jean Baptiste passa a ficar obcecado pelos métodos de preservação das essências olfativas (cheiros) que o cercam, tornando-se aprendiz de um grande – e arrogante – perfumista francês, vivido por Dustin Hoffman, em uma de suas atuações hilárias.
Entretanto, depois de desvendar diversos segredos da prática de produção de perfumes finos, Grenouille percebe que seu próprio corpo não exala nenhum odor, e se convence de que precisa criar o perfume mais puro e poderoso já inventado. É a partir dessa obstinação pelo perfume perfeito que o filme de Tykwer faz jus ao subtítulo de “história de um assassino”; Grenouille descobre que a essência final e definitiva do perfume ideal deve ser extraída de jovens virgens mortas.
Evidentemente, este não é um mero filme de serial killer, até porque não há destaque para cenas de violência (decisão acertada do diretor, que, tal qual Jonathan Demme em “O silêncio dos inocentes”, prefere abordar a psicologia do vilão e criar um clima de tensão crescente essencialmente pela história). O foco maior de Tykwer é mostrar as circunstâncias intrínsecas/extrínsecas (instinto x sociedade) que levaram Jean Baptiste gradualmente a se tornar um assassino tão frio, embora sem perversão, em sua busca desenfreada pelo aroma sublime. É interessante observar que Grenouille não é necessariamente um típico perfil de assassino: ele não sente prazer ou alegria em matar; simplesmente extrai a essência de suas vítimas com a mesma naturalidade com que extraía das flores e ervas anteriormente.
Falar em Grenouille torna necessário citar, ainda que apenas por menção, o trabalho de Ben Whishaw, o ator que demonstrou incrível talento na pele deste personagem, que é igualmente gênio e monstro. De poucas palavras, quase um autista, o Jean vivido por Whishaw certamente convenceu – e muito bem – os leitores da obra de Süskind, bem como os espectadores que sentiam falta de um serial killer complexo, neste caso fascinado e seduzido pelos cheiros que o cercam. No restante do elenco, destacam-se Rachel Hurd-Wood,( do recente “O retrato de Dorian Gray”) e Alan Rickman (o eterno Snape de “Harry Potter”), que lutará para evitar que sua filha se torne a vítima final de Grenouille.
Este tópico dos cheiros, em especial, foi o maior triunfo de “Perfume”, do ponto de vista cinematográfico; Tykwer demonstra uma assustadora habilidade de projetar na tela todas as sensações olfativas que seu filme propõe. A cena inicial, sobretudo, que mostra a imundície do mercado a céu aberto em que Jean Baptiste nasceu é chocante. O espectador consegue “mentalizar” com precisão os cheiros desagradáveis de peixes, vísceras, vômitos e animais em decomposição que empestam aquele lugar sem o mínimo de higiene.

O ponto negativo de “Perfume”, ainda que não seja exatamente uma falha, mas um exagero do diretor é, ironicamente, seu clímax surreal, que provavelmente frustrará aqueles que não conhecem o romance no qual o filme se baseia. Não é possível falar dele sem dar spoiler, mas basta saber que, na ânsia de fazer o espectador perceber a grandeza absoluta do perfume perfeito, Tykwer cometeu o deslize de intensificar o efeito dessa essência de forma nada sutil, utilizando-se de apelação visual. Contudo, isto não estraga o filme; apenas pode frustrar um pouco as expectativas criadas acerca de seu desfecho. De toda forma, avaliando “Perfume” como um todo, o saldo final é satisfatório e deixa no ar um cheiro de intriga e tensão que perdura, mesmo depois dos créditos finais.




Conceito: Ótimo
Nota: 9,0

0 comentários:

Postar um comentário