segunda-feira, 4 de junho de 2012

Crítica: Cidade dos Anjos

                                                                                                                                                         



Brad Silberling apresenta  um clássico romântico sensível e sóbrio

          Atualmente, o cinema e a literatura têm abordado todo tipo de fantasia e clichês sobrenaturais. O motivo? Fazer dinheiro fácil à custa de histórias vazias, abrilhantadas somente pela presença do clássico elemento sobrenatural... Nesse sentido, vemos vampiros sofrendo crises existenciais, anjos misteriosos que sofrem por não poder amar "a mocinha", dragões disfarçados e por aí vai...
          Uma rara exceção nesse cenário quase totalmente comercial é o filme "Cidade dos Anjos" (City of Angels), de Brad Silberling. Totalmente sensível, mas sem os clichês comuns ao gênero romance, o filme de Silberling é uma recriação do clássico "Asas do Desejo" (1987), do alemão Wim Wenders. Note-se que "Cidade dos Anjos" é uma "recriação", não exatamente uma "refilmagem", como muitos apontam. A obra de Silberling tem elementos próprios e particulares que fazem deste um dos melhores filmes românticos americanos de todos os tempos.
          O filme narra a história de Seth (Nicolas Cage, de "Motoqueiro Fantasma"), um anjo que vaga pelo planeta aliviando as perdas das pessoas e consolando-as. Naturalmente, sendo um anjo, ele é invisível aos mortais e suas únicas companhias são outros anjos que cumprem a mesma missão de ajudar as pessoas. Os anjos do longa não são representados de forma estereotipada, tocando harpa, loiros, com auréolas ou asas. Em vez disso, eles são sóbrios, se vestem de preto e gostam de ler e de assistir ao pôr do sol na praia. Esta representação poética é muito bem interpretada por Cage, cujo personagem se apaixona perdidamente por Maggie (Meg Ryan). Depois de perder um paciente, a competente Dra. Maggie sofre um choque brusco; ela fica abalada e é nesse meio tempo que Seth começa a prestar atenção nela. Daí, nasce um amor irresistível entre eles. Maggie é uma das poucas pessoas que conseguem enxergar Seth, mas aí vem a parte dramática do filme: sendo anjo, Seth não pode se relacionar com Maggie (pelo menos não sexualmente, já que ele não pode sentir o prazer do toque em sua totalidade). Por não ter os cinco sentidos humanos (olfato, tato, audição, paladar e visão) Seth pede que Maggie descreva as sensações passadas por esses sentidos. As descrições dela estão também entre os momentos mais sensíveis e poéticos do filme. Maggie fica encantada e confusa com Seth, uma vez que ele só pode ter com ela uma relação que transcenda o desejo sexual; o próprio amor que ele sente por ela não é carnal, mas "divino", ou seja, além da percepção humana. Entretanto, percebe-se, mesmo nesse amor transcendental certas conotações sexuais subliminares.Outro empecilho é a incredulidade de Maggie, que não se convence totalmente da divindade de Seth.
         A despeito desses fatores, Seth também deseja ter uma vida humana ao lado de Maggie, amá-la como um humano e, para isso, renuncia à sua imortalidade (outro momento poético), finalmente tornando-se um ser humano normal.
          Contudo, a maior poesia do filme está no final, trágico e arrebatador ao mesmo tempo. Seth pode sentir a humanidade em toda a sua grandeza de sensações, mas também a fragilidade da vida, tão limitada ao destino frágil e incerto. Sozinho, ele redescobre por conta própria o valor da vida.
          Para finalizar,  é preciso citar a ótima trilha sonora, com músicas sensíveis e que traduzem toda a sutileza de tão belo filme. Outro aspecto interessante é a época em que o filme foi lançado: 1998, ou seja, bem antes da invasão dos fenômenos adolescentes virais que rondam por aí hoje em dia. "Cidade dos Anjos" também não faz apelação à beleza dos atores, pois tanto Cage quanto Ryan são atores maduros que se destacam por suas interpretações cuidadosamente dosadas no bom senso, o que faz do filme um cult romântico adulto, sem exageros nem clichês superficiais e batidos.          



   


Conceito: Ótimo
Nota: 9,0


     

1 comentários:

  1. Excelente a crítica sobre o filme. Destacar a poesia da obra e fazer uma sinopse completa.
    Parabéns

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